sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Sobre o fascínio das águas


Há tantos mergulhos ainda.
Por entre o respeito e a admiração, o medo e a paixão, meu fôlego preso dilata minha percepção e compreende minha pequenitude, dimensão de homenzinho peixe, ambíguo, anfíbio. Navegador submarino livre. Atleta de 200 metros. Forte em dois ambientes com lar na terra, com lar no mar. A água revigora meus pensamentos, minha saúde e meus músculos. E com beleza e violência a onda quebra e quebra a quietude, e saúda os homens que vivem do mar, e avança na praia, e avança para os turistas, e derruba os castelos e pontes e cerca as ilhas e nos cerca de vida.
É um coração pulsante que movimenta as ondas. O mar é vivo, pensa, sente, se ofende e se apaixona. É sobre esse coração que quero dormir hoje, no fundo do mar quente e aconchegante, como uma pérola. Ser uma relíquia protegida por milhões de segredos e formas de vida, abraçado pela água e sal, no escuro...
Há tantos mergulhos ainda.
Sou filho do mar e com ele, tomo a liberdade de dizer, somos um só, unicelular. Sou um tritão, guerreiro defensor do meu lar. Um amante da lua, com fases e marés, tempos em tempos, subo e desço, cresço e me altero e não envelheço. Sempre jovem, forte, sedutor. Um dos caminhos para o infinito.
Há tantos mergulhos ainda.
Uma oração de proteção antes, uma oração de agradecimento depois. Hora de despedida, uma falta que acompanha todos os dias. Vou encher o mundo de água, um dilúvio, uma única vida para todos viverem como irmãos.
Há tantos mergulhos ainda.

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