Alguém [26]

Alguém cujos olhos cantam

Alguém cujo sorriso dança

Alguém cujas mãos excitam

Alguém que é fogo doce de se deixar queimar.

Sobre demarcações

Eu

Que me dissolvo todo no sorriso teu

Que me diluo por completo

Me perco sempre

No que deveria ser eu.

Acredito que me confundo em você

Onde termino e você começa

Uma desculpa por não sentir pouco

E nem mesmo sinto muito.

Mas você me ergue e desenha

No chão pra que eu possa ver

O corpo que desmonto

Pra depois então me refazer.

Ao me demarcar, volto a mim e estou

Pronto pra primeiro te conhecer

E só depois morrer de amar

Mesmo que as vezes

Eu pensei estar misturado a você

Até temer desaparecer.

Há tempo

Não diga que já era

Que passou o bonde

Que perdemos a hora

Que ficamos do lado de fora

Que tudo se configura

Diferente agora.

Amor não tem data marcada,

Um fogo que não apaga,

Não tem agenda nem mapa

Fórmula certa de acontecer.

Na vida, tudo pode ser.

Há tempo de recalcular a rota

Pegar o desvio que nos leva de volta.

Tanto te olho que já entendo

Que não trilhamos caminho novo.

Amor, às vezes, é voltar pra casa.

Redescobrir quem se é

Na vontade de ao outro conhecer.

Não diga que venceu o prazo.

É só mais um tempo

Até querer encontrar e se deixar.

Ainda tá no prazo de erguer

A casa e o mundo,

Eu e você.

Espelho

Meu semblante é medo visceral.

O amor é um espelho

E, no reflexo, você acha graça de mim.

Pudera eu quebrá-lo todo

O espelho e esse riso frouxo.

Um caco a mais que diferença faria?

Mas acabaria quebrando a mim.

Meu eu repetido nessa poesia.

Espelho, espelho meu,

Existe alguém mais melancólico do que eu?