quinta-feira, 30 de agosto de 2018

Duas amêndoas sorrateiras indo de encontro à minha escuridão.

Te descobri por acaso, com seus olhos me sugando
Devolvi com o mistério que transpassa os meus.
Descobri, então, seus traços tesos e perfeitos.

Erguendo-se como um escorpião em posição de ataque.

Este tem sido, desde então, nosso segredinho.
Você no silêncio, deixando suas amêndoas,
Brilhando pela estreita fresta,
Chegarem à minha escuridão.

Deitou seu olhar no meu olhar,
Deixou suas amêndoas se recordarem
De que jamais houve curiosidade maior
Do que descobrir a profundidade de meu coração.

Este tem sido o nosso joguinho rápido,

Quem desvia antes se entrega primeiro.
Porque que é urgente esse anseio,
E é passada a hora de saciá-lo.


Ora, ficar suspenso no ar
Uma hora vai nos cansar.
Logo nos levará à permuta:

Curvas por retas, linhas por gotas, pelos com feitos.

Quero vê-las no escuro e apreciá-las de perto
As amêndoas devem se entregar quando estão sozinhas.
Quero te trazer pra perto para evocar teus cheiros,

Mensurar suas dimensões.
Caçar-te e ser caçado por ti.
Correr em círculos, repetir fórmulas, dizer como se faz.
Parar de me perguntar
Que busca é essa que te trouxe aqui?

E, por fim, sorrateiro e me vendo de cima
Quero que confirme o que sabemos.
Que foi bem feito.
E que já passou.
E terá ficado no segredo.

Até o dia em que, em algum lugar pela rua,
Seus olhos de amêndoas sorrateiras forem de encontro à escuridão de meus olhos de novo.