terça-feira, 24 de agosto de 2021

Vazio dominical

No vazio dominical perdura
Uma solidão abrindo-alas ao desvario
Quietude como essa o desejo não fura
Impiedade como essa ninguém nunca viu.

Repete-se o corpo nas mesmas noites
A cada sete sempre à mercê da sorte
Como se a alma pedisse açoite
Como se o amor em falta pedisse a morte.

O caminho é inverso, de costas pro penhasco
Não se quer pular, se quer preencher
Num surto sinestésico mergulhando num frasco
De fragrância forte e ante dele perecer.

Que mais sobra, nesse primeiro dia
Que nunca mais finda, nunca mais irradia
Se de sinais vagos se fez crescer
Um dolorido e vagaroso enlouquecer?

Só resta a festa suja e recorrente
Para afastar do peito e da turbulenta mente
Com meio poema torpe e certamente indecente
Dizer que o vazio nem mesmo assola
Só se segue em frente.