quarta-feira, 4 de abril de 2012

CAOS [5]

Dos desejos mais sombrios do homem...
Daqui eu falo.
Fale-me da violência dos atos. Respondo-te com a violência das palavras.


Incontrolável desejo psicopata suicida homicida divagante sujo apaziguador de coração
mente insaciável de vingança
vingança masturbável de cansar o braço




o segredo está na não-importância das coisas.
Assim, sobrevive-se com mais qualidade de vida.






Longevidade.
Quem não se importa vive mais e melhor.

E se eu pudesse entrar na sua vida...

Dias depois...
Meses depois...
Anos atrás...
Um último raio de sol visto no milênio passado. E eu nem sei mais por quanto tempo tenho andado sem rumo. Um objetivo confuso, vendo no horizonte apenas a silhueta de um futuro insatisfatório. Um mesmo sol brilhando na mesma janela ornamentada de flores mortas.
O mundo, enquadrado pelas plantas falecidas, entra pela minha janela há décadas.
As flores foram plantadas com tanto amor, cultivadas, nos seus poucos centímetros quadrados, com zelo para crescerem e abrigarem meu coração inquieto. Mas meu desejo vem de um lugar onde as medidas fogem dos padrões, ultrapassam limites quânticos e existem na plenitude e eternidade. Não consigo me conter em mim mesmo.
Talvez por isso, tudo que tenho se torna pouco.
E existe ainda a excitação das medidas exageradas. Como quando sentimos tesão pelas maiores altitudes e nos sentimos tentados a pular, mas o medo não nos deixa.
Talvez por isso, o pouco que tenho se torna suficiente.
O mundo, visto através dos meus olhos de hoje, se traduz como fotografias iguais, as mesmas poses e paisagens todos os dias.
Sabe, eu nem me daria conta, nem mesmo me incomodaria, se não fosse pelo seu repentino brilho de sol, novo e transbordante de vida, vindo de tão longe e me fazendo pensar que, talvez, sempre esteve por perto.
Enquanto alguma música depressiva toca como trilha sonora da minha vida editada, penso em como seria entrar na sua vida.
Eu faria todo um reboliço. Arrancaria do meu jeito esse teu sorriso inundado de sol de todos os dias. Presente divino, humano e vivo. Completaria da minha forma seus minutos, de forma com que eu me tornasse inesquecível e lhe apresentasse novas possibilidades de enriquecer o coração com prazer. Até arrisco dizer que seríamos poetas da improbabilidade, das variáveis engraçadas cujas respostas sempre estiveram na nossa cara, mas que, por algum motivo, permaneceram invisíveis por muito tempo.
Descobriríamos juntos tudo que se pode descobrir sobre o ser humano. E desvendaríamos a fórmula da juventude, que, ao contrário do que muitos pensam, ataca o sistema maléfico do corpo humano que nos envelhece por dentro, na alma. Dois velhinhos, duas crianças. A mesma coisa.
Com algum tempo, entenderíamos até o segredo da vida. Mas, é claro, como tudo que tenho descoberto recentemente, guardaríamos do mundo todas as respostas. E a fortuna se prolongaria no espaço, domaria o tempo, a vida infinitamente indo da carne ao pó – e vice-versa – com nossa essência para que, em todas as épocas, escrevessem os poetas e músicos sobre nossa estória.
Se eu pudesse entrar na sua vida, eu voltaria a plantar, mas não mais plantaria flores. Plantaria músicas. Longas sinfonias de metal pesado. Alguma balada morna e doce, rasgada, daquelas que transpassam a alma e explodem em algum lugar do nosso corpo errante. Coisas inexplicáveis.
Algo nos faria falar em línguas inexistentes. Uma forma de comunicação só nossa, que poderíamos usar em público e rir por ninguém estar entendendo.
Se eu conseguisse cruzar essa fronteira estúpida, ao menos por um minuto, eu poderia mostrar tanta coisa, tanta coisa... Mais do que minhas palavras, escritas ou faladas, poderiam descrever.
Mas... Me diz uma coisa.
Você está me entendendo?
Claro que muita coisa você sabe. Inclusive, deve saber melhor do que eu, um azarado assassino passivo-negligente das flores. Vejo tantos conceitos filosóficos abstratos que você desenha no seu diário todos os dias... Sei que bem sabes.
Ora, se algum dia eu, porventura, entrasse na sua vida...
Raio de sol.
Faria de tudo pra lhe mostrar a felicidade.

Ao meu lado.