quinta-feira, 17 de maio de 2012

Minhas palavras e a humanidade

Um último suspiro e se finda a humanidade. Da forma que caminha, cambaleante, embriagada, errando o caminho com os passos que julga certo.
Minhas asas quebradas, queimadas, depenadas... Meus ossos expostos, ardendo sob o sol, desprotegido na neve, solitário. A humanidade morre a cada sorriso tristonho, a cada momento de solidão no caminho para o trabalho, a cada hora gasta trabalhando para poder sobreviver, a cada grosseria, a cada atropelamento, a cada falta de humildade...
Como seria bom se a humanidade morresse gozando numa orgia global.
Mas a humanidade morre vítima de si, na luta pela sobrevivência no jogo animal do dinheiro. Aprender a sobreviver no mundo dos homens, pós-moderno, multicolorido, despedaçado em ansiedade e depressão, é um aprendizado falso. O homem não nasceu para viver tamanha complexidade externa. Viver e crescer, internamente, já é difícil o suficiente. Não existe resposta que justifique milênios de atos humanos que nos trouxeram a essa dificuldade de viver.
Mas e o nosso corpo?
As cores pálidas das paredes, os atropelamentos, o cheiro de urina nas esquinas... O corpo que se desintegra debaixo do sol, evaporando ou explodindo, não é mais um corpo humano livre e coeso. É um corpo pobre, vítima de suas próprias malcriações. O corpo de uma criança má.
Eu aprendi a sobreviver em vários ambientes, a me adaptar com facilidade e a conviver com muitas pessoas. Hoje não sei exatamente a finalidade de tudo isso. Talvez seja uma piada irônica do universo querendo me fazer testemunha - não só vítima - da morte da humanidade em todo canto do globo.
Sinto que meu corpo se alonga no espaço enquanto seus membros se esfarelam no chão, uma poluição que passa despercebida no meio de tantos outros, padecendo de doenças do novo século. Com a cabeça doendo, o dente aberto, a língua bifurcada, o sopro cardíaco, a síndrome do pânico, a psicose, a eternidade no inferno. Que piada idiota! Cada desculpa que nos inventam, que a ciência cuida de teorizar e faz descer pela nossa garganta. Até nossos poemas são produtos dessa má digestão.
O homem, o lobo do homem.
A humanidade morre a cada música que não é escrita pelo amor.
Cadê meu horizonte de brinquedo, desenhado com giz de cera, que eu guardei com carinho na minha estante?
Os corpos vão se desintegrando no ar. Não paro pra localizar se há alguma esperança moribunda em mim. Eu sento e assisto, e vivencio.
Ah, humanidade...


Cadê minhas palavras?

terça-feira, 1 de maio de 2012

No escuro,


no dia do fim do mundo e na solidão depois da morte - somos todos iguais.
E não existe quem possa me consertar melhor do que eu mesmo.


Eu trago, tu traz
Atrás
de cada
um nosso
pesadelo
desejo
amanhã
é bom
dia


Eu serei no presente um presente pra quem vive comigo.
E quero desfrutar do meu riso no meu medo - que não é mais segredo - e poder despejar os baldes cheios de lágrimas que me seguravam no mesmo lugar.


Nós sabemos que sempre seremos aquilo que um dia já fomos, mas também seremos aquilo que nós deixamos de ser. Mas não vamos nos definir com uma palavra só. Somos múltiplos erros. Somos múltiplos acertos. Bonzinhos e mauzinhos. Cara e coroa.


Quando eu costumava te roubar de você, o amanhã era apenas um conceito incompreensível, mas, tudo que é vivo morre, tudo que é danado escapa. A felicidade é danada. O destino é danado. Cada escolha me fez escrever um pouquinho mais no caderno que levo comigo na mochila. EU NÃO ANDO SÓ.
Por mais que eu esteja sozinho escrevendo, não estou só.
Nascer e morrer são dois processos para os quais nunca estaremos prontos até chegar a hora. Não existem ensaios para nascer e morrer. A humanidade nasce e morre só. Mas ninguém disse que não poderíamos viver juntos nesse meio tempo passageiro que é a vida.
Por isso, com quem queremos estar amanhã?


Eu quero estar com quem é diferente de mim. E com quem é igualzinho a mim. Eu quero estar com alguém que possa saciar meu tesão por conhecimento, que me acrescente algo que preencha essas minhas lacunas imperfeitas da alma.


Quando eu costumava te roubar de você, eu me jogava tão sem medo que parecia uma criança. Eu sinto que quem me lê, de alguma forma, vê um reflexo de si. E não importa se já roubamos alguém ou se já fomos roubados de nós mesmos
Talvez, no final das contas, não sejamos assim tão diferentes.
A humanidade é composta por particularidades ironicamente desenhadas para se completarem.