terça-feira, 4 de fevereiro de 2020

Felizes para sempre

Eles viveram felizes para sempre.
É engraçado, porque essa medida é finita.
Uma vez que a eternidade não se mede.
É só uma metáfora romântica para tudo que morre.
O fato é que tudo se transforma.
A vida se transforma. A natureza muda.
Nada permanece sendo o que era no início.
O romantismo existe porque não conseguimos lidar com o fim.
Não conseguimos lidar com a morte das coisas.
O luto. A perda. O fim.
Tudo se transforma.

Eu já tive meu felizes para sempre.
Isso já está riscado da minha lista.
Agora, o ponteiro está apontando para outra direção.
Conseguir outras coisas que estavam no desejo.
Não há outra felicidade romântica por vir.
O felizes para sempre já aconteceu.
E, como é da natureza, acabou.
Agora, é o que vem depois.

Eu já fui feliz pra sempre. Dentro daquele momento.
Fui feliz pra sempre condensado naquele pedaço de vida.
Agora, preciso dar conta de conquistar outras coisas.
Nada me trará o feliz para sempre de novo.
Já foi.
E isso não é uma dor. É um alívio.
Um alívio imenso da construção cultural.
Ser feliz pra sempre? Ok, já fui, e agora.
Dar conta de mim é bem mais complexo que isso.

Há um mundo inteiro que independe do meu feliz pra sempre.
Se eu gostaria que tivesse durado mais?
Talvez, mas o pra sempre não tem medida.
É irreal, impessoal e passageiro.
O que importa é que o feliz pra sempre que existiu
foi o melhor que poderia ter existido.
"Eles foram felizes para sempre."
E depois foram atrás de outras coisas.