quinta-feira, 25 de junho de 2015

O que vestir

Ou Prelúdio Para um Samba


Se você vem de seda
Já entendo a noite que teve
Se exibes um corpo sorrindo
Me faço de desentendido

Se corres da chuva
Me contorço de raiva
Se usas um véu e grinalda
Faço disso uma piada

Se tens a mão fria
Talvez eu faça uma rima
Mas se chegas de máscara
Eu não entendo o que se passa

E quando não entendo
Não acho nada engraçado.
Mas se chegas despida
Aí já não tenho rima.

Mas se te afastas de mim
Usando um roupão de cetim
Como aquele que usas dia não, dia sim,
Morro a cada pouco

A cada pouco despedaço
Cores e amores em liquidação
Não sou eu quem faço
Esse desejo de vestir seu coração.

segunda-feira, 8 de junho de 2015

Abraço apertado

Ele tinha um desses abraços
repletos, exagerados,
que de tanto não precisar
chegava e ficava

Um desses abraços apertados
que algo dizia
já que não necessitava de palavra
estendia-se no infinito

Desses que te acomoda
te busca e finge
que não é dor que sente
da vida que não veio e do que ficou pra trás

Um abraço de menino
de criança, de segredo
de confidência, de permissão
quase como um pequeno desespero

Há algo de urgente nesse abraço
um fio tênue de coragem
de levantar-se e dizer que
"não solta mais"

O abraço que é só isso
que nasceu para ser.
Pois quando desaba
quando seu corpo desagua
quando já não é mais ficção
nem fusão
já não é justo nem disposto
já é longe
já é passado
é eco
ainda é vivo
evapora e precipita-se
e eu chovo em mim mesmo
pois ainda está aqui.
Eu preso no abraço que ficou.