domingo, 28 de outubro de 2018

Ninguém solta!

A gente que divergiu...
A gente se divertiu ao discutir o mundo!
Ao discutir a vida, a filosofar a lida
A gente se curtiu

Desafiando as idas
Buscando as vindas!

A gente que concordou
A gente que amou e depois correu
Primeiro sofremos, depois renascemos
a gente melhorou
Surgimos incandescentes
nessa onda crescente!

A gente ta junto!
A gente ta longe e ta perto!
A gente ta de mãos dadas!
A gente sabe amar e a gente vai se erguer!
Ninguém fica pra trás, toda vida vale!
Ninguém sai do vale pra morrer no beco!
Ninguém volta pro toco pra viver o maltrato!
Ninguém volta pra pia só pra servir sua cria!

O amor é maior e eu posso ver
que nos mais tardar
vamos amanhecer
calejados e livres
da minha mão não solto ninguém
nem que me façam refém
pois a nossa luta
ah, a nossa labuta!
Ela nos faz crescer!
Amém.

sexta-feira, 21 de setembro de 2018

Par Perfeito


Alinhe-se em mim. Na hora certa. No momento certo.
Peixes que buscam o solo.
Virgens que querem o mar.
Encoste teu ciclo no meu pomar.
Perceba as nuances e fases da lua.
Seja pelo sol e evidencie-se na rua.
Vem pegar seu sonho e me dê seu chão.
Somos par perfeito modestos e direitos.
Trace suas retas nas minhas escamas,
Organize seus desejos por ordem de chegada.
Não existe outra estrada.
A não ser isso vivermos.

quinta-feira, 30 de agosto de 2018

Duas amêndoas sorrateiras indo de encontro à minha escuridão.

Te descobri por acaso, com seus olhos me sugando
Devolvi com o mistério que transpassa os meus.
Descobri, então, seus traços tesos e perfeitos.

Erguendo-se como um escorpião em posição de ataque.

Este tem sido, desde então, nosso segredinho.
Você no silêncio, deixando suas amêndoas,
Brilhando pela estreita fresta,
Chegarem à minha escuridão.

Deitou seu olhar no meu olhar,
Deixou suas amêndoas se recordarem
De que jamais houve curiosidade maior
Do que descobrir a profundidade de meu coração.

Este tem sido o nosso joguinho rápido,

Quem desvia antes se entrega primeiro.
Porque que é urgente esse anseio,
E é passada a hora de saciá-lo.


Ora, ficar suspenso no ar
Uma hora vai nos cansar.
Logo nos levará à permuta:

Curvas por retas, linhas por gotas, pelos com feitos.

Quero vê-las no escuro e apreciá-las de perto
As amêndoas devem se entregar quando estão sozinhas.
Quero te trazer pra perto para evocar teus cheiros,

Mensurar suas dimensões.
Caçar-te e ser caçado por ti.
Correr em círculos, repetir fórmulas, dizer como se faz.
Parar de me perguntar
Que busca é essa que te trouxe aqui?

E, por fim, sorrateiro e me vendo de cima
Quero que confirme o que sabemos.
Que foi bem feito.
E que já passou.
E terá ficado no segredo.

Até o dia em que, em algum lugar pela rua,
Seus olhos de amêndoas sorrateiras forem de encontro à escuridão de meus olhos de novo.

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2018

Medo I

O prelúdio vem sido escrito há anos.
Previ a chegada ao precipício.
A brisa leve levantando os cabelos, era, na verdade,
Tormenta.
Foi quando a porta, que não foi aberta,
Estourou os tímpanos ao fechar violentamente.
Nessa hora, eu previ.
Ah, o amor que não vingou,
Aquele amor da janela do apartamento
Cuja vista era de um cenário de curta-metragem,
Nessa hora, eu previ.
Quando eu já não soube mais cantar.
Quando eu já não soube mais escrever.
Nessa hora, já estava no pescoço de areia movediça.
Não precisava mais prever.
O inevitável encontro final com o medo.
Vou falar sobre ele.
Sorrateiro, vingativo, impetuoso,
Prevalecendo-se da minha alegria.
Escondendo-se na bochecha com a risada mais bem paga.
Felicidade diluída no fundo do copo.
Não sabia que suas calmarias eram tentáculos
Impedindo a água de passar.
Quando a barreira deveria ter sido exposta
Pra deixar a água jorrar.
O medo veio com a água que não jorrou.
Com a água que é vida.
E que não proliferou.
Se eu pudesse dizer uma coisa
Eu diria:

Socorro.