segunda-feira, 23 de julho de 2012

Braços

Ela era daquelas típicas meninas. Bela, gentil e sozinha.
Ela era sozinha com seu sentimento, saber aquilo tudo que ela faria por um par de braços para abraçá-la.
Mas às vezes o mundo simplesmente não gira.


A insatisfação é um sentimento macabro. Vive do lado da gente como um fantasma, um ente querido e morto que não se desapega.


Ela cresceu com aquele tesão pelo abismo. Porque se jogar era sua curiosidade diária, o combustível que a movia. Viver mais um dia para saber como seria o abismo um passo a frente. Porque tudo que é vivo morre. Ela morreria nos braços de alguém que a teria amado mais que a própria existência.


"Não há braços ao redor, exceto os meus próprios".
Ela só pode se segurar em si mesmo quando a vertigem a atinge. Não há braços mais fortes do que os seus.


Ela faz flexões.
Assim como todos eles.


Ela sente uma atração sem precedentes por um novo par de abrigos.
Não há lugar salvo o suficiente para suportar a tormenta do fim do mundo
Não há lugar protegido o suficiente para ser sua morada.


Não há sorriso, não há par de braços, não há carros, não há cores, não há amores...


"O amor vive em mim".
E viveu até o dia em que ela morreu.
O amor indestrutível de uma pessoa que se amou mais do que qualquer outra coisa no mundo e viveu por si apenas. Porque ninguém lhe era suficiente.
Uma história do silêncio levado às últimas consequências.

sábado, 21 de julho de 2012

silencio

Houve um Deus.
Houve uma fé, por anos, vivenciada religiosamente.



Só que, pelas circunstâncias sociais, minhas lembranças foram todas sufocadas. Algumas, por sorte, canalizadas numa só pessoa. Uma grande amiga.
Mas meus silêncios me matam tanto.
Eu sou uma criança egoísta. Que chora sozinha no quarto, quando ninguém vê. Eu sou meu próprio mártir. Só eu me vejo morrer. Escolhi ser sozinho e não sei lidar com isso.
Não sei reverter meu silêncio.
Como voltar a falar?

quinta-feira, 19 de julho de 2012

CAOS [6]

Vem voando
vem no vento
faz de mim
seu gato, seu negro, sua raiz, seus galhos.


dimensiona-me do tamanho do mundo.
Chore
me engrandeça

Eu sou teu veneno sexual, seu antídoto cristão, a anestesia artística de sua doença pagã.


Meu canto mudo foi escrito por entre as cobertas.
Você vem.
Volta.

domingo, 15 de julho de 2012

Hoje não é dia de muitas perguntas,

nem é hora ou lugar pra ficar se perguntando "por quê?". Porque as perguntas não respondidas machucam, frustram. O silêncio que se faz quando se grita desafiando tudo que é mais divino... Esse silêncio é mortal, dilacerador. Portanto, é melhor não perguntar nada.
Hoje é dia de um sentimento muito particular de impotência. De visualizar nossa diminuta existência no quadro imenso que é a vida e mergulhar de cabeça nessa revolta a tudo que não cabe na nossa compreensão.
Porque o que foge da nossa compreensão é facilmente odiado. Porque falta explicação plausível.
Mas hoje não é dia de procurar explicações.
A revolta que ameaça nos tomar é como uma brisa para o furacão. Não adianta de nada. E essa raiva desgastante, incômoda, que palpita no cérebro, é visível nas têmporas... Essa raiva destroi.
E hoje não é dia para se destruir. Porque muito já foi perdido.
Nas reviravoltas da condição humana, a natureza se contorce, torna tudo mais difícil, mais inatural. A vida que escapa das mãos, como água escorrendo por entre os dedos, e sublima aos céus. Desaparece.
Ah, Deus, que minhas palavras mesquinhas e egoístas cheguem inteiras aí, e que minha fé, inabalável como uma palafita num terremoto, não machuque ainda mais os corações que choram por não entenderem. Eu oro pedindo conforto pra quem precisa.
Porque não importa de onde nosso amor vem. Não importa o remetente divino ao qual dirigimos nossos pedidos e entregamos nossos entes. Nada disso importa, porque o que nos foi tirado é uma alma alimentada com tanto amor, tanto amor, que as fronteiras religiosas, híbridas celebrações dentro de cada um de nós, passam a ser tão pequenas...
Quem sou eu para falar sobre arte para um menino de 11 anos?
E ainda assim, houve um menino de 11 anos que parou para me ouvir falar.
Como família, somos todos um grande pilar, símbolo da humanidade que Cristo nos inspirou a praticar. A família não vai a lugar algum. Estaremos aqui. De longe e de perto, cuidando daqueles que mais precisam nesse momento.
Mesmo que jamais possamos entender.

A vida que se finda só não é maior do que o sentimento que permanece.
Seres muito amados são imortais.



Para meu querido primo, Rafa.