terça-feira, 29 de outubro de 2019

Olhar você

Eu vou te encontrar.
Em toda esquina, em todo bar.
Até ter respondido, vou te ver.
Em todo olho verde ou preto
Amendoado ou vermelho de ser
Eu vou te enxergar.
Em cada riff, em cada suspirar,
Em cada colo teso e aterrorizado
Todo envolto em palavras grossas
Como se chorasse sem lágrimas
A raiva contida entregando sua solidão.

Eu vou te perceber.
Em toda amizade boa de se viver.
Em toda cumplicidade de criança,
menino jovem
Espaços entre as curvas
Os banhos de chuva.
Até ter entendido, vou te perceber.
Que sonho e pesadelo são vistos
Sob a marquise de achar
Que ninguém te ama, só a solidão.

Eu vou te enxergar.
Em toda resposta negativa que vier a ser.
Em todo silêncio que não quis me dizer.
Em todo hotel contido num silêncio mortal.
Ouvindo os amantes se afogarem
no sonho e pesadelo de se amarem.

Eu vou te enxergar no novo, no velho
No delito, no flagelo,
no sorriso roto do amedrontado
naquele que não veio, naquele que já foi
naquele que não consegue sorrir de volta
naquele que só sorri de volta, mas não entende
naquele que procura alguém
que o entenda e o enxergue
e o perceba e o encontre
em sua própria solidão.
Até te achar de verdade, eu vou olhar apenas você.

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