quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Noites livres

Nunca deixe roupas suas na minha casa. Repito: nunca deixe roupas suas na minha casa.
Porque eu não conseguiria me conter. Iria vesti-las só para poder sentir você tocando minha pele, como fazemos em todas as noites livres. A excitação de ter você sobre meus ombros, abraçando meu tronco, me envolvendo com seu cheiro e eu me deleitando com nossa dança embalada a vinho e a poesia. Meus braços entrariam nas suas mangas e eu te tomaria como amante durante toda a madrugada, enquanto o calor de seu tronco aquece meu corpo e a noite fria se torna verão.
O que essas pernas por cima da minha poderiam proporcionar?
Trabalho.
Trabalharia com coxas e panturrilhas enquanto visto sua calça até que, ao alcançar a cintura, nossos sexos estejam se tocando suavemente como dois pássaros engaiolados. E estaríamos próximos no momento supremo do gozo.
Eu quero experimentar sua roupa íntima. Experimentar, no teu orgasmo, o sabor que existe em tocar o meu centro, em carregar nas mãos a minha divindade transvestida de homem. Quero ver o que sobra e o que falta. Onde há espaço e onde os ângulos favorecem.
Certa vez, você esqueceu seu travesseiro aqui.
Eu dormi com ele três dias e três noites até que você veio buscá-lo. Ele cheirava a nós dois. Eu nos reproduzi no cheiro que permaneceu naquela fronha e foi então que nasceu nosso filho. Sonhei sequestros, sonhei medos, sonhei desejos e sonhei furtos. Todos envolvendo você e seu corpo delicioso que me mantém erguido e firme, andando a passos largos para te ver todas as noites livres.
Eu te quero inteiramente. Por várias noites, rolando delicadamente no meu lençol azul enquanto nos vestimos um do outro. E, nessa troca, quero desvendar o enigma do seu semblante, do seu cabelo, da sua covardia quando se trata de me tomar por inteiro.
Vista-me e saia na rua só pra ver o que vão dizer de ti.
E volte para as noites de troca, de riso, de elevação carnal, de desejo latente. Volte e se engaiole comigo. Vista minha pele e meus pelos e pelo resto da vida seremos fiel a essa nossa natureza estranha e instigante que incinera na noite e renasce pela manhã. Como a noite desvirginando a madrugada.

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