domingo, 11 de dezembro de 2011

Culpa-do(s)

Tentamos inutilmente nos reerguer das cinzas, mas não somos fênix.
Eu percorri um longo caminho torto pra poder erguer esse copo aqui agora e dizer que a sensação anestésica do seu abandono é quase tão confortante quanto uma noite de amor intenso.
Porque tudo o que passou por mim... Bom, todos que passaram por mim, dentro e fora de mim, em cima e embaixo de mim... TODOS... Ficaram. Estão. Permanecem minguantes, num ofuscamento constante e interminável. Propaga-se o CAOS porque as múltiplas realidades estão presas dentro de um desejo só e não conseguem respirar livres. Falta liberdade!
É inútil culpar os escultores de mim, pois isso não ameniza a dor de me ser.
E cada um que passou, esculpiu um pouquinho. Modelou um pouquinho.
Então, eu viro esse copo tranquilamente e digo que a sensação anestésica do seu abandono é quase tão confortante quanto uma noite de amor intenso. Orgulho-me de meu orgulho, e de ser quem eu sou, numa zombaria infantil, numa risada falsa, num brilho forçado e inatural que percorre meus olhos.


Meus olhos não brilham mais.


O que acontece quando os olhos não brilham mais?


Minha vontade é de estapeá-los. Assassiná-los, cada um de uma maneira mais brutal que o outro. E pendurá-los na parede do meu escritório, e escrever livros sobre vocês, peças, contos, crônicas, poemas, canções... Fazer arte de suas tripas, arte de suas almas perdidas e tristes.
Desprezo vocês, artistas plásticos de mim, que na ânsia de me ensinar alguma coisa, acabaram por me deixar com medo, com choro entalado na garganta, com ansiedade e nervosismo. Por que tiveram que me amar?


Somos todos eu.
Eus e nós.
Não sou uma figura plana, não tenho apenas um lado. Sou uma esfera. Um espelho redondo e infinito. Culpado de mim.


A sensação desconsertante do seu abandono é melhor do que não ter as memórias de um dia ter sido posse.
Eu quero justiça. Quero que os culpados paguem!
- Mais um copo, por favor.

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