sexta-feira, 5 de agosto de 2022

Adultize

 Os meninos correm e voltam a deitar no colo da mãe
são pequenos meninos e amam tanto e confiam tanto e são tão vivos
humanos e desprendidos de quaisquer coisas que
de repente
o colo é o do bar.
O abraço é o da garrafa e o amor é a cinza do cigarro.
Meninos amam. Meninos choram nos colos das mães e depois choram sobre a mesa metálica do bar e consomem mais uma cerveja para poder chorar mais para que o colo seja para sempre, mas amanhã o colo não existe mais e eles ficam sozinhos e não há mais nenhum colo e o colo é algo repudiável porque o colo, quem quer colo? o colo é feio o colo é falha o colo é fraqueza o colo é meu deus nem eu sei dizer...

Meninos não choram.

Os meninos abraçam suas mães e as amam. Meninos abraçam seus pais o os amam, mas esses possuem planos terríveis para seus meninos. Um plano replicável de sofrimento, um ciclo vicioso, atraente, e empoderador, criador de senhores de nada que não possuem nada, que não dominam nada, que não amam nada, enquanto amam tudo, mas não PODEM amar nada e não podem sofrer pela perda de nada e nem podem se frustrar por nada e eles competem entre eles por quem sofre menos e por quem ama menos e eles se resumem a arremedos dos meninos no colo que outrora foram mas eles ainda se sentem como pequenos meninos precisando de colo mas o colo é

sexualidade.

o colo é mulher. E querer o colo é querer a mulher. É querer a vulnerabilidade de se entregar completamente aos braços de uma mulher que a tudo resolve e a tudo acalma e a tudo entende e a tudo...

ninguém a tudo entende e nem é essa a questão.

adultizamos vocês, meninos, para que sofram e façam a guerra. adultizamos vocês, meninos, mesmo querendo abraçá-los em colos humanos que os inviabilizem dessa hostilidade que não é nata. teu deus punitivo não existe.

O colo. Mãe. Quero teu colo. Mesmo que você não entenda o teu colo como meu colo, mas quero teu colo.
eu não entendo porque a gente se beija tão pouco no rosto e acha tão fácil agredir.
Adultizamos-nos numa frequencia destrutiva. Vibramos os homens duma forma que tudo se desregula.

Mãe, só quero colo. Tenho 30 anos e só quero colo. É feio? Por Deus, só quero colo. Só quero consolo. Tudo tem sido difícil. Ela não me ama. Ele não me ama. Ninguém me ama. Eu não me amo. Só quero teu colo, pois em teu colo eu me amo. Eu me amo e te amo. E posso chorar e sofrer e sorrir. Não preciso disso pra sempre, mas, pelo menos, por agora, peço teu colo.

Vá embora. Você é grande! Você não merece colo!
Adultizamos-nos num mar de crueldade.

Nenhum comentário:

Postar um comentário