quinta-feira, 21 de março de 2013

O poema que Ella me contou [1]


Eu fui até ele.
Abri os braços e, simplesmente, me rendi.
Disse:


“Estou muito grata por você ter entrado em minha vida. Num dia épico, divisor de águas. Ter sido a cadeira ocupada mais distante de mim. E por não ter dado liberdade de aproximação logo de início. E por me fazer acreditar que você não era uma pessoa agradável, tolerante, que passasse longe de ser especial. Tudo para que eu pudesse desmistificá-lo depois.
Grata por você nunca abrir a boca pra puxar conversa, por jogar esse jogo da curiosidade comigo e por se desdobrar em sorrisos inexplicavelmente cativantes e imprevisíveis a manhã toda.
Obrigada por não ter feito diferença nenhuma no começo.
E ter sido essencial nesse final.
Sabia que eu vivo descontente com a humanidade? Perdendo e recuperando minha fé como se estivesse experimentando roupas...
E sabia que você me fez acreditar um pouquinho mais nas pessoas? Só por ser a exceção da regra. Eu adoro as pessoas que são a exceção da regra. Parece que você vai caminhando e ensinando, sem compromisso algum, a sermos pessoas melhores.
Obrigada por me deixar compreender um pouquinho de sua história.
Obrigada pelo cheiro, pelos bombons, indicações de filmes, risadas, goles de cerveja, de vodka, pelos momentos inexplicáveis, pelas minhas dúvidas sobre você e pelas minhas certezas sobre você,
Por ser diferente, por ser único, pela animação, pela despreocupação, por ser algo que nem sei dizer, por me fazer perder o fôlego, o tempo, por me fazer morrer te esperando, me distrair, me fazer ser boba com as palavras e me perder ao escrever e não sei mais o que dizer.
Grata por você nunca ter feito nada e, pela primeira vez, eu ter entendido que me apaixonei por alguém que não fez nada, que não é inventado, que simplesmente foi tudo aquilo que é.
Por me fazer perceber que ainda há amor em mim.
Eu vou sentir tanto a sua falta. Sem lágrimas. Vai ser um sentimento bom, assim, pra sempre.”


Afastei-me daquele abraço que, na realidade, foi mudo. Porque eu não conseguiria dizer tudo isso. Vou levar as palavras que eu não disse pra casa e dormir com elas. Talvez amanhã elas amanheçam mortas.
E nos despedimos, sem beijinho no rosto pra não ser tão inconveniente. Ele resmungou alguma coisa como “tchau” e usou um adjetivo nada bonito pra me descrever. Eu ri.
Ele virou a esquina e eu ainda sorria.
Os anos se passaram e eu ainda sorria.
E enquanto escrevo esse poema, estou sorrindo.
Sem dores ou pesadelos.

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