quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Meu coração...

Meu coração nunca permaneceu batendo tão distante de mim como agora. Dilatado do jeito que está, na certa, não sobreviverá amando, tampouco suportando a atmosfera desse lugar. O lar de outrora agora arde em fogo maldito.
Não reconheço sequer as esquinas das queimadas, ou as praças dos sorvetes. Parece que o asfalto clama por água, morto no verão de 2012, sufocado pelas pegadas pesadas de tanta hipocrisia.
Meu coração martela forte, na garganta. Minha pressão arterial está nas alturas, zombando de mim aqui embaixo, como se eu fosse apenas uma cobaia, sob teste perpétuo. Sobreviveria eu vendo tanta gente medíocre? Por quanto tempo?
E eu juro por tudo que há de mais sagrado que eu me esforço para compreender seus silêncios covardes, seus motivos egoístas, suas atitudes hipócritas, mas eu simplesmente não evoluo mais. Sim, sou eu! O problema é comigo! Eu não sigo adiante. Eu não me permito mais entender as pessoas.
Não entendo essas pessoas.
Não reconheço essas pessoas.
Não as tomo mais como irmãos, nem como amigos. Apenas as conheço, suas fisionomias. Mas as desconheço em caráter. Não compreendo.
Meu coração bate tão tímido perto dessa gente, como se bater empolgado demais pudesse me matar de vergonha. Nunca vi tantos sorrisos largos, forjando companheirismo, comprando os presentes mais caros. O cheiro no ar é doce. Então, ele fica azedo de repente. E aí, doce de novo. Como um botão de liga e desliga. Ligo e desligo meus olhos e meus olhos ligam e desligam cada um que passa por mim. Vejo um veterano de guerra adoecer de tristeza, de desgosto, de inveja de quem morreu em combate. Tenho tanta pena dos veteranos de guerra arrependidos, amargurados contra o próprio destino que os protegeu.
Meu coração quer dormir um sono de princesa presa na torre, porque isso significaria ainda ter esperança. Porque apareceria um coração de príncipe corajoso, honesto e bondoso para tirá-la dessa vida de ilusão. Meu coração bombeia álcool.
Hoje, meu coração acordou com uma vontade danada de se prostituir. De ser de todos, de se apaixonar cada vez mais pelos amigos, pelos colegas, pela família, pelas árvores, pelos caminhos, pelo sol e pela noite. Contudo, temo que ele terá que dormir sozinho mais uma vez. Não existem corações procurando amor fácil, aliás, não existem mais corações procurando amor at all. Existe traição.
Então, meu coração quer ser amante. E hoje a noite, sim, ele dormirá em paz.
Meus hábitos me engordam. Minhas noites vão produzindo um certo efeito de emburrecimento da alma. Empobrecimento da minha existência, pelo o que vejo e pelo o que ouço. Não é incomum ter um copo plástico ao lado de minha cama para as cusparadas que eu dou sempre quando me lembro desses corações que eu não compreendo mais.
Meu coração, hoje rico, vai comprar mais duas vidas para cuidar, assim como meus queridos amigos. Já que ele me abandonou, fugiu de mim, desempregado é que ele não fica. Vai trabalhar dobrado, ofertando gratuitamente suas maldosas opiniões e censurando aquilo que bem lhe convém.
Não sei bem por qual motivo, mas acho que meu coração não morrerá tão cedo. 

Um comentário:

  1. Lindo, Marcio. Me tocou profundamente, um dos meus preferidos... adoro o que escreves. :)

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