Há tantos
mergulhos ainda.
Por entre o
respeito e a admiração, o medo e a paixão, meu fôlego preso dilata minha
percepção e compreende minha pequenitude, dimensão de homenzinho peixe,
ambíguo, anfíbio. Navegador submarino livre. Atleta de 200 metros . Forte em
dois ambientes com lar na terra, com lar no mar. A água revigora meus
pensamentos, minha saúde e meus músculos. E com beleza e violência a onda
quebra e quebra a quietude, e saúda os homens que vivem do mar, e avança na
praia, e avança para os turistas, e derruba os castelos e pontes e cerca as
ilhas e nos cerca de vida.
É um coração
pulsante que movimenta as ondas. O mar é vivo, pensa, sente, se ofende e se
apaixona. É sobre esse coração que quero dormir hoje, no fundo do mar quente e
aconchegante, como uma pérola. Ser uma relíquia protegida por milhões de
segredos e formas de vida, abraçado pela água e sal, no escuro...
Há tantos
mergulhos ainda.
Sou filho do
mar e com ele, tomo a liberdade de dizer, somos um só, unicelular. Sou um
tritão, guerreiro defensor do meu lar. Um amante da lua, com fases e marés,
tempos em tempos, subo e desço, cresço e me altero e não envelheço. Sempre
jovem, forte, sedutor. Um dos caminhos para o infinito.
Há tantos
mergulhos ainda.
Uma oração
de proteção antes, uma oração de agradecimento depois. Hora de despedida, uma
falta que acompanha todos os dias. Vou encher o mundo de água, um dilúvio, uma
única vida para todos viverem como irmãos.
Há tantos
mergulhos ainda.
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