E eu não sinto nada quando falo sobre
aquele prato quebrado. Depois de se espatifar no chão e explodir em pedacinhos
minúsculos, o rancor escorrendo pelo chão como o sangue seco em minhas mãos, o
silêncio disse tudo que nós nunca conseguimos dizer. E com a gente foi assim
desde o início: o silêncio ditando os próximos passos. O silêncio aproximou
nossos lábios pela primeira vez e agora ele acabara de pôr o incontestável
ponto final.
E aquela fração de segundos se desdobrou
em nossas mentes e se alongou no tempo, nos mostrando que tudo que fomos também
quebrara com aquele prato. A nossa relação sempre foi como uma peça de
porcelana, única, bela e frágil. Todo o cuidado é pouco quando se trata de
fragilidades. E nunca se sabe que motivo nos levará a jogar um prato na parede.
Não sei dizer ao certo quem derramou a
primeira lágrima. Provavelmente eu, o mais sentimental. Chorei não pelo susto ou pela louça, nem pelas palavras. Chorei de cansaço. Chorei pelo
incontestável. Não adiantaria mais insistir daqui pra frente. Uma relação
afetiva, seja ela qual for, é como um barco que precisa ser remado a dois pra
sair do lugar. Alguém esteve remando muito tempo sozinho esse nosso barco. Ela
insistia que era ela enquanto eu só via a mim mesmo tentando, gastando energia
sozinho, numa guerra triste e infeliz, eu e o remo contra o barco.
Mas eu sei que então, em nome do bom
senso, lágrimas serão poupadas, energia não será mais desperdiçada. O silêncio
deixado por aquele prato quebrado foi como um grito... Aliás, qual a diferença
entre um grito e o silêncio? Para nós, o efeito foi semelhante. Só que eu ainda
acho o silêncio muito mais impiedoso. E as lágrimas correndo solitárias, órfãs,
um choro egoísta, injustiçado. Nossas lágrimas nos pertencem tanto quanto
qualquer bem material. Não se chora por ninguém. As lágrimas são fruto de nosso
profundo egoísmo tingido de cores de sentimentos. Nós choramos pela nossa
desgraça e, em contraponto, apenas pela nossa felicidade. Pelo nosso medo e pela
nossa própria dor.
Não sei dizer quanto tempo se passou até
eu virar as costas e sair. Sabia que a mesa tinha virado e que dessa vez não
voltaria atrás.
Um
prato nunca representou tanto. Não houve a necessidade de nenhum complemento.
Não acontecerá mais nenhuma guerra. Ninguém me machucará de novo. Não agora que
tudo já passou.
Eu
preciso de um sinônimo para adeus...
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