Por que me doi morrer? Por
que me doi a morte minha e não as dos outros? Eu estou aqui, engolindo areia, a
roupa branquíssima, como um lençol branco enrolando meu corpo, me irritando de
tão imaculada e indigna de me vestir, guardando o choro da própria morte. Por
quê? Olho pro lado e vejo uma irmã de alguém, não a minha que ainda vive. Essa
irmã de alguém, tendo dificuldades, segura a minha mão e consegue me irritar
mais ainda. Eu tento afastá-la, tento me afastar, ela me segura e a empurro com
violência. Ninguém nos vê, nem mesmo quem passa por nós. Ou fingem que não
vêem, não se importam. Ou nada mais importa mesmo.
- Me ajude... – ela pediu e eu vi apenas sua boca por
trás daqueles panos todos cobrindo o rosto dela.
- Ninguém me ajuda! – respondi.
- Eu sei o que doi em você. – ela disse.
- Não, você não sabe. – não queria que ela me lembrasse
disso, não agora que eu estava me distraindo com o esforço de peregrinar.
- Ninguém foi, não é? Nem mesmo pra limparem você. Apenas
ficaram encarando a cena como se fosse a coisa mais normal do mundo.
- Não quero parar. – sussurrei, mas ela ouviu
perfeitamente.
- Ninguém quer parar. Eu não quero parar. Me ajude...
Eu podia ver os olhos gritando por piedade por trás
daquela máscara branca. E eu não fiz nada além de não impedi-la de se apoiar em mim. E voltamos a andar com
nossos passos lentos.
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