Compreensão de
tempo e espaço é coisa para além daqui.
Imundos! Sim, todos imundos naquelas roupas limpas.
Ironia, mesmo agora. Imundos, mas nem todos tristes como eu. Em nenhum lugar
que estive vi pessoas tristes como eu. Ninguém nunca comungou com o que eu
comunguei. Sangue e terror. Não necessariamente nessa ordem. Mas, como eu
percebi antes, nada mais importa.
Parece que um par de olhos felizes piscou para mim. E eu
pude ver toda a dor que existia naquela pessoa. Do casamento, dos anos
passados, da vida mediana de felicidades e tristezas, dos filhos e suas vidas
medianas, até a morte na fé. E eu percebi que para caminhar tanto, só com muita
fé.
Então, eu compreendi claramente.
Vivemos todos juntos, mas morremos sozinhos. Cada um com
sua dor, diferente da minha, menos tristes que eu, mas todos com a sua dor. E
com a sua fé. Esse é o nosso denominador comum. É assim que eu me sinto num
grupo, encontrando o que há de comum nas pessoas que também existe em mim. Todos caímos, no
deserto dos vivos, no deserto dos mortos e depois de tudo, tudo que nos mantém
é a fé. Fé de que nossa tristeza se dissipará no ar, como a água que evapora
sob esse sol e nos desnutre. Aquele homem que caiu vai entender também, assim
como aquele par de olhos felizes que me despertou o entendimento. Uma hora ou
outra todos vão. Eu e a minha tristeza vamos desaparecer.
- Eu preciso ir. – sussurrei pra moça que se apoiava em
mim.
Não sei dizer como ela reagiu porque tudo se desfez rapidamente.
Sol, areia, suor, pessoas. E eu posso lembrar-me de tudo agora sem pena de mim
mesmo. Assim como eu me lembro de um único abraço acolhedor que ganhei em vida. A mesma sensação de
acolhimento eu senti assim que todos sumiram. Eu e minha felicidade diminuta,
abraçados, partindo...
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