Livremente inspirado na música Desert Song - My Chemical Romance
Enquanto andávamos e o vento e a areia
castigavam nossos pés e canelas, enquanto o suor escorria violentamente pelo
rosto salgando a boca, enquanto eu ouvia alguma palavra de conforto e motivação
que os outros trocavam entre si, a dor que batia no meu peito junto ao coração
diminuía com o esquecimento. Que benção magnífica é o esquecimento!
-
Força, levanta! – disse uma das últimas mulheres para o homem caído e quase
esquecido no caminho.
Eu
não parei pra olhar. Não se pode parar aqui. Mas não resisti e virei meu rosto
e, mesmo tendo olhado por uma fração de segundo, eu soube. Compartilhei toda a
dor daquele homem caído. Dos holofotes de sua fama, o palco, toda a música
carregada de forte ideologia, todo o espírito livre e anarquista, das drogas e
o sexo até a overdose, o chão, o vômito, a piscina de sangue, o médico, a
doença, a doença, a doença, a terra escura e a escuridão e o silêncio. Não
senti pena. Não costumo sentir pena dos outros. Mas compreendi a fraqueza que
ele demonstrava agora. Não era de uma vida vivida de forma errada. Não se
tratava disso.
Por causa do vento, eu raramente levantava meu rosto. Quando o fazia, tentava inutilmente contar a multidão que estava adiante, a passos lentos como os meus. Às vezes, uma ou outra pessoa também parava ou caía, isso eu sei, como notas fora do compasso daquela música que era nossa caminhada. Eu mesmo não conseguiria por muito mais tempo. Houve um tempo em que eu andava rápido e em cima de cordas e não caía. Nada restou pra hoje.
Por causa do vento, eu raramente levantava meu rosto. Quando o fazia, tentava inutilmente contar a multidão que estava adiante, a passos lentos como os meus. Às vezes, uma ou outra pessoa também parava ou caía, isso eu sei, como notas fora do compasso daquela música que era nossa caminhada. Eu mesmo não conseguiria por muito mais tempo. Houve um tempo em que eu andava rápido e em cima de cordas e não caía. Nada restou pra hoje.
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