Enquanto passo pela estrada a caminho de sei-lá-o-quê,
passa, na contramão, um bocado de gente perdida e aflita. Como se não houvesse
o tempo em seu destino final. Apenas uma reprovação.
Não há dinheiro suficiente que nos abasteça de felicidade.
Enquanto faço meu caminho até não-sei-onde, perco-me na
relação dentro e fora dessa cidade que saboreia as quatro estações num só dia.
Os prédios, comércios e praças que se erguem provocam o transeunte, que se
deixa levar pela visão, caindo em armadilhas capitalistas ou, talvez, salvando
sua vida, brincando com seu dia. Como o artista que se contorce diante de uma
obra-prima que o inspira a compor. Um ciclo artístico. A vida acontece em
métricas poéticas, sendo essa a única revolução humana contra a realidade fria
da existência.
Os bancos imponentes são os soberanos enfeitados do
Natal. E todo comércio se faz discípulo, prestando favores ao deus da moeda.
Inúmeras são as reverências e referências. Há uma rebelião aqui ou ali, mas,
poucos são os que se interessam.
Talvez a vida aconteça aqui apesar disso tudo. Talvez ela
passe despercebida no meio dos prédios. Esteja pisoteada na calçada. Esteja no
vento frio que levanta os cabelos dos moradores e turistas e nas suas caras
fechadas, de poucos Bom dia! e dolorosas desculpas fajutas. Aliás, a vida
sempre é facilmente localizada no silêncio interior que a cidade grande
proporciona. E a vida explodiu tão furiosa diante dos meus olhos hoje que, ao
andar por aquela rua, senti uma tontura de quem experimenta alguma substância
alucinógena. E, de repente, parece que nasci de novo, já velho e agradecido por
suportar os dias de cão que come o pão que o Diabo amassou.
E vejo minha própria vida que se encantou por aquela rua muitos
anos atrás. E me lembro de que também desenhei um sol amarelo e um castelo que
descoloriu. Mas, ainda assim, a vida conduz meus passos com uma ingenuidade de menino.
Então, sou eu que não percebo?
- Hei, vocês! Nós que não vemos? – grito e não sou
ouvido.
Sorrio, apesar disso. Porque sei que, no fundo, em algum
dia da semana, alguém também será tocado por essa magia e se sentirá vivo e,
depois de respirar fundo, tomará novo impulso para mais um ciclo inteiro de
dificuldades. Sorrio porque chegarei em casa e escreverei sobre isso. Sorrio
porque o futuro é meu e meus sonhos se tornarão reais. Amanhã eu volto ao
trabalho.
XV minutos de um não-Novembro mais que feliz.
Pensa que durante a leitura me vi por muitas vezes,indo e vindo de onde pra onde...incrível me senti a propria personagem....caminhei por muitas x e tentando imaginar o que cada ser em si carregava naquele vai e vem. Parabens amigo vc é fenomenal
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