Alguém [25]

Alguém que é riso frouxo e cumplicidade na malícia.

Alguém que acompanha suas ladainhas enquanto você rumina o amor não correspondido.

Alguém que estará lá sem te julgar, mas dizendo "vá com calma".

Alguém que é um grande amigo.

Vigarista

Aprendi a ser engenhoso

Um grande de um mentiroso

A esconder meus passos

A forjar acasos.

Não choro, é o que corre por aí

E tampouco amo, digo que não senti

Um arremedo de vigarista

Vingar-me não está na lista.

Escondo minha desilusão

Invento uma confusão

Pra não dizer que adoeço de excessos

Que não preciso desses universos.

Criei uma norma rígida e sombria

Pra me esconder de qualquer avaria 

E coloco-me no silêncio de meu aposento

A boca colada com cimento.

E nada vejo. Nada temo. Nada sinto.

Um assíduo e exagerado amante escondido e perdido numa dobra do infinito.

Uma criança num quarto cheio de doces

Que nunca soube dividir.

Espelho

Meu maravilhoso tonel de vinho

Sobrevivendo ao tempo

Te entendo ontem tanto quanto hoje

E terei você comigo amanhã.

Quando tua música diz o que pensei

Já é um segundo marcado num leitmotiv

Tua voz seda perfumada e rasgada

Embalando luta de espada na madrugada.

Tua poesia me é sorte e é lugar

Aprendi a desejar com toda minha pele naquela

Cuja sequência de notas arrepiam a nuca

E vibram no baixo-ventre

Ah, tantas vezes amei sob tua descrição

De como anseia um corpo em exaltação

Sem romance algum, apenas terreno firme

Onde recolho a alma e me deixo ficar.

Me encontro n'A Pequena Morte

Liquefeito em suor e certo da sorte

De ter amado direito e com tempo

Como se houvesse ficado distante a última vez.

Contigo, vi que amo também pelos poros

Admiro curvas, retas e reentrâncias,

Como cheiros e experimento a antecipação

Viajo com uma cara de sono ou o timbre de vozes

Desejo o que é meu e está no outro

Quando somos tão iguais.

Paura

Mi alzo tutti le mattine 

Però non dormo mai

Questa paura rimane qui

Dicendo che non posso vederti più.

Sono andato tutta la città

Tra una canzone e un'altra

Che abbiamo cantato

Una vita fa

Ho paura di domani

Forse un giorno diverso

So belle parole per fare

Una poesia e una risposta 

Ma dove sono le certezze

Quando ti incontro presente?

Purtroppo perdo la voce 

E parto in silenzio.

Non voglio in mio cuore

La paura di cercare per sempre

Aspetto a letto per dormire

Mentra vedo mio sogno 

Diventando un incubo brutto.

Ora posso solo scrivere

Una lettera che rimarrà chiusa

E che si chiama

Ti voglio tanto bene.

Afresco

Uma estonteante obra de arte

Não vê quão grande é a própria beleza.

Já você não deve dizer o mesmo

Pois em sua casa há espelhos

E testemunham também meus olhos,

O tempo todo,

Para você poder acreditar.

Índigo

Teus olhos me massacram

Destroem qualquer resquício de homem em mim

Fazem de mim uma porção de átomos errantes

Que flutuam à deriva.

Eu esqueço e me deixo ir

Nem me importo se não sei voltar.

Sorte

Nem estávamos apostando
E um bilhete rasgado ao meio
Pousou em nossas mãos.
Olhos cheios de medo
Diante do papel dourado
(Quanto tempo pra alguém reclamar esse prêmio?).
Amor também é um pouco de muita sorte.

Comece assim

É inadmissível que a gente saiba

Tanto sobre ciência e as estrelas

E que ela não saiba que teu sorriso é dela

É ridículo pensar que o jornaleiro entende

Tudo que será no próximo capítulo da novela

E que ela nem imagina que você canta pra ela

Comece assim

Diga pra ela que é Natal quando ela chega

É orquestra sinfônica quando vocês se olham

Que é Carnaval quando juntos riem

E é pesadelo quando ela se afasta

Diga que teu peito se aperta se ela esbarra

Que teu coração acelera se ela chama teu nome

Mesmo com medo, deixe que ela saiba

Que existe um motivo para tanto deslumbre

Repita seu nome pra ela ouvir e não duvidar

Ela pode não querer acreditar na primeira vez

Mas ela vai entender quando você disser

Que ela tem sido tudo que você ousou conhecer

Encerre

Peça desculpas pela raiva - que também é ela

E pelo desmazelo - que só acontece diante dela

Não fique doente por não dizer

O que você sente é tão bonito e real

Que vale a pena se deixar derreter.

Easy on the eyes

Ah, beautiful soul and heart
Good-looking one I've longed for

Such a stunning face could mean 

Just by being easy on the eyes

everything.

I try not to stare but it's unpractical

I even try to flee but I don't want to

Gotta stay right here right before your blue

Diving in my fear and nude.

I suppose I'm not special or worse

not even a glimpse of something more

I take my place and I swear

not to fall for your tricky mean face again

that just by being easy on the eyes

could be and do

everything.

 

Leituras

Esse meu corpo todo de história marcado

De cicatrizes feito de desejo e memória

Sobre a cama um livro aberto

Com páginas soltas que não voam no vento.

Pode ler que meu amor tresloucado

Divaga sem amparo e mistura

Teu protagonismo e o meu no etéreo sofrer

E conclui sozinho tudo que não ouve direito.

Leia minhas mãos, meus olhos, meus dentes

Meu arrepio, meu suspiro, face em fogo

Tudo posto na mesa ou na cama pra leitura

Rato na roda - de samba -, no mar e no céu 

O livro constelar de um peixe perdido.

Ansiar

Do exagero que sufoca

E da mansidão que não satisfaz

Prefiro o calor vulcânico das mãos

E a brisa colérica da tempestade.

Mesmo que me canse

Tudo é profundo e pra ontem.

Entrelinhas

Curioso como quando a gente se empolga

As borboletas do estômago e os neurônios aflitos

Se agitam buscando liberdade

E abrem as comportas pra derramar verdade.

Esquecemos as entrelinhas

Que escondem as reais palavras

Que camuflamos depois de muito pensar.

E no ápice da euforia, a gente deixa jorrar.

E no meio da frase escapa sem querer te amo algo que jamais foi preparado e nem sequer ousaria dizer porque preciso comentar o tempo e que eu quero ir jamais.

Ou melhor, 

tenho que ir agora.

Uma entrelinha posta em seu lugar.

Por falar em infinito

A vida é um piscar de olhos

Cada frame é um mundo inteiro

Vou te buscar pra sempre

Em cada canto da eternidade

Toda vez e de novo

E vou ser (teu) presente e você (meu) agora

E que a gente se ame logo de cara

Logo no primeiro olhar e abraço.

Um risco pra quem sabe que tudo finda

E que nos faremos em pó e cacos.

Mesmo assim, vou te encontrar mais uma vez

E te amarei tanto

Até que a gente esqueça 

Que a vida é um piscar de olhos.

Esquecimento

Minhas mãos estão aqui

Meus pés são agora

Meu coração bate aqui dentro

E tropeça apertado lá fora

Teu pulso, porém, ora desenfreia

Ora revolve a estaca zero

Te lembras de mim com doçura

Cuidas de mim com esmero

E quero lembrar até jamais esquecer

Teu nome teu cheiro teus traços 

Mesmo que te esqueças de mim

Mesmo que abandone meus abraços

Por fim, enquanto ainda souber quem sou

Sei que estarás paciente e calma

E quando eu já não te for familiar

Deixa que eu te guio e te acolho a alma.

Uma palavra

Cabo de guerra,

Faca e queijo na mão.

Uma palavra de distância.

Blefe mal feito,

Nota na pausa.

O silêncio negando a calma.

Tudo tão entregue que me ouço nos seus olhos

Me reconheço no teu suspiro

Encaro meu cenho franzido

No teu sorriso

Teus braços compridos

Na folha em branco em cima da mesa.

Uma luta muda que se desenrola

Sem livro, mas com história

Uma derradeira palavra longe de ser.

Hard to believe

I'm walking my way home

But I'm not going there

There's no place I can call home

I'm spread everywhere.

I find it hard to believe

It doesn't mean anything

It was all for nothing.

I'm walking my way back

With no words to say

Days ago I saw you

Petting the darkness inside of you

It was beautifuly intended

It was all meant to be

Coincidentally

I shared my life

I split my soul

I divided my art

I find It hard to believe

It doesn't mean anything

It was beautifully intended

I find It hard to believe.

Uma vida inteira

Cabe uma vida inteira nesse vão 

E também cabe uma numa fração de segundo

Eu não preciso entender tudo.

Nunca soube nada do mundo

Só o reencontro no meu caminho.

Chega de andar sozinho.

Nosso nome é estrela e a vida, um moinho.

O pavor que eu tenho e tudo que faço

Chega de evitar os laços.

Nem que você dê o primeiro passo

Para uma vida inteira então.

Represado

Eu conheço o mar, mas não te conheço

Eu conheço esse medo, mas não me despeço

Te olhava mesmo quando você reparou

E eu queria era ver mais

Debaixo dessa capa intacta e espessa

O cheiro da pele nua e indefesa

O ensaio de pelo recém desabrochado

Tocar atrás do teu medo

Abraçar apertado teu sonho

Um mundo acontece enquanto eu contemplo

O mar que não conheço

O mesmo medo que eu tenho

Eu te observava mesmo quando você me flagrou

O semblante neutro de quem pouco esconde

Que mergulharia sem volta nesse mar represado

E devoraria faminto cada parte visível 

Eu não tenho nomes clichês pra essa loucura

Estou encantado e em contemplação

Desde que avistei esse teu mar desconhecido

Revolto e aterrorizado 

Exatamente como eu me sinto.

Ironia

Ironia é ser poeta

Muito mais que fingidor

Saber tanto de tanta coisa

Cada regra, cada nome, cada som

Saber dar pausa e ritmo

A cada linha um suspiro

Ironia é ser poeta e munido

De tantas palavras belas

Dançando leves no papel

Ironia é compor sobre tudo

Trovador mequetrefe e fajuto

E não ter uma palavra sequer 

Pra te pedir pra ficar.

Poça

Antes fosse um sofrimento

Encarar teus olhos de fogo.

De gelo me fiz inteiro

Só pra devagar me ver derreter.

E uma vez liquefeito

Sem rumo, sem corpo, sem jeito

Te empresto tudo aquilo

Que vem de mim

Mas que já não é mais meu.

Dito

Enrolei as palavras todas
Dobrei a língua num barulho esquisito
Desisti de dizer no meio da frase.
Engasguei e você riu de mim.
Fui dizer que não e disse que sim.

Você corou e desviou o olhar
Engoliu em seco e tentou não me ver
Havia muito mais que poderia escapar
Você foi dizer que não entendeu
E disse que sente o mesmo que eu.

Desfiz minha confusão
Fingi estar perdido e sem sentido
Ri de você que havia entendido
Tossi e forjei repentina dor
Fui confirmar que era ódio e assumi que era amor.

O alarme disparou e cessou
A guerra não-declarada de nada se dizer
Nós nos despedimos agora até semana que vem
Teu timbre suave, meu timbre rouco
"A gente se vê daqui a pouco?".

Alguém [24]

Alguém que é silêncio e distância.
Alguém que não se encontra em lugar algum.
Alguém fantasma que vive no escuro no canto do teu quarto.

Alguém que você machucou.

Venom

This night isn't finite
Water flows down my head
just keep asking why
you have spilled it like that

don't stare
I feel dizzy as the comfort sways
don't sneek upon me
don't let me know

this venom is all I have ever had
this feeling of uncertainess
it consumes me
it keeps me wondering
will I ever have this night
awake?

two bottles and you can go
three more and you return
back and forth in this lapse

Bleeding oil from my veins.

Alguém [23]

Alguém que vê a vida em rosa.
Alguém que pede para você pegar leve.
Alguém que está longe da superfície agora.

Alguém que, de dois corações, fez um só.

Destino

Essa vida de estrada e essa longa jornada
Que nunca chega, nunca acaba
De todos os destinos aos quais me proponho a ir
Após todas as paradas que me fizeram parar
Rápida e inconsciente falta
Horas e quilômetros, espaços de escuridão
Espaços de claridade
Chegar a algum lugar é minha vontade
Trocas de roupa e saudade no peito 
Longe de casa, a foto dos pais na carteira
Despedidas, mesas de almoço e pão no forno
O cheiro do café e o cheiro do asfalto quente.
Gente que passa, gente que foge, gente que sente.
Gente que retorna após exercitar o perdão
O sonho do trabalho perfeito
Tanto tempo na estrada, nas curvas solitárias
Eu vivo em curso, o destino das escolhas
Nessa rodoviária lotada, eu amo a viagem
Mas você.
Ah, você.
Nessa vida cigana que me afastou tanto de tudo
Chegar no lugar que é você passou a ser minha vontade
Eu posso até viajar sozinho
Destino de quem não tem um grande amor
Mas, você quer ir junto
Ver o mundo comigo e
Fazer raiz no caminho?
Você é a exceção que me permito, o mundo que imagino
Ser feliz dormindo, com o vento balançando o cabelo.
Tuas esperas também te levaram pra longe
Veja! O destino de um passeio a dois!

Mãozinhas

Tuas mãozinhas são tão pequenas
E teu coração tão machucado
Nem teve tempo para dizer
Mas quero te ver curado.

Teus pézinhos tão agitados
E teu desejo tão aguçado
Dançando no mel, menino lindo
Quero te ver curado.

Há um abraço forte esperando você
um aconchego quente no colo do amor
menino lindo, teu nome é o primeiro
quero te ver correndo nos pisos
iluminar os corredores com tua pose guerreiro
menino lindo
que seja você o primeiro a saber
Eu vinha te esperando e nada vai se prostrar
entre eu e meu padecer
quero te pegar no colo e dizer
"Eu amo você".

Volta pra casa.

Esperando a canção

 A canção tocou na hora certa.
Eu acho que estou perdido sem você.
Amanhã, passarei o dia esperando que você diga
Que está perdido sem mim.

Eu fico aqui sonhando que usamos a mesma medida
que temos a mesma régua
eu fico perdidinho sem uma orientação
E amanhã ficarei esperando a canção

Já posso sentir o dia acabando e a música em silêncio
E o vazio repleto de sentimento me consumindo
Uma pena eu me antecipar tanto assim
Eu acho que estou perdido, alheio a mim. 

Antigo e infantil

 Desse meu querer antigo e infantil,
Não sobra muita coisa.
Meu querer pesaroso e autopiedoso
que me custa as moedas que tenho no bolso
Pago o ônibus ou embarco nessa ilusão?
Mesmo escolhendo a estrada
o caminho parece vir de volta
Como se não houvesse linha reta nesse carrossel.

Meu querer fadado e cansado
O mastigar dos dentes que afasta os iluminados.
O ranger da mandíbula que se choca no amargo
Os dias são longos e as noites parecem dias
Meu amor velho e criança
que nada tem de temperança
Se põe a querer como se não soubesse
"Que amar é pão feito em casa"
Mas, pedras não voam, Paulo.
Nem se você a elas desse asas.
Na vigília o silêncio de quem não se prostra
E a chama de quem não sossega.
Joelho que não dobra e nem mão que arrega.
Quietude de quem não sabe apostar.

I'm early and you're late

You ask if I'm busy and I still complicate
You point that I'm grumpy and I fear my fate
You know how it is and I can relate
You insist I'm early but you're too late

You see auras and colors
I see long roads and sorrows
I pretend there are no tomorrows
and your shine I can't borrow.

You wake up with the sun
but this time love you missed the fun
you got here when I'd already had my run
The amount of chances are none

I hope I'll catch up next time
With no more disaster to rhyme
And you, keep it together in the meantime
Until you see the one who you'll call mine.

Orientação

Quando eu me apaixono
é sempre pela minha casa
Seja voltando para minha cidade
Ou encontrando em novos olhos
O lar de onde vim.

The path ahead

The path ahead
takes me back
to the place
where I started from.
Ashes to ashes, they would say.
We shall incinerate to create.
Again in the flames to once fly free.
I'm afraid. I dare to say.
It feels like the first time all over again.
But how could that be 
If I have died before?
The path is you. You are the flames.
You are the place I want to begin in.

Time to Rest

 You may rest in silence

Unaware of all the long road

The peace once stollen

Was torn apart by my bare hands.

You may rest in stillness

For this has nothing to do with you

Nor your tongue let alone your vows

My soul can no longer relate to us.

You may rest in glory

And fulfill the path given to you

Becoming who you were meant to be

Away from my cells and disease.