Perdimento.
Que me faço pequeno e diminuto dentro deste casulo que não
permite nem a passagem do ar, proíbe a circulação da vida, a aprisiona, fazendo
tudo se comprimir numa vida encaminhada para dentro.
Que sonho é esse que, de repente, abre um rombo dolorido nas
paredes finas e resistentes desse asilo? Escoam as frases feitas, inúmeras
ofensas, sentenças cruéis que servem de subterfúgio para meus pesares e abrem
espaço para a luz... Como não poderia ter medo?
Como poderia deixar de temer a luz? A possibilidade de
mudança... De melhora? Quando tudo que é mais confortável permanece inerte no
escuro...
Que sorriso é esse, meu Deus?
Uma baforada de ar no meu rosto e um caminho todo pela
frente. Eu me abraço te abraçando. Quero te beijar para beijar a mim mesmo, que
não me encontro há tanto tempo... Quero ser de ti, para ti, para que, então, eu
seja meu e possa sobreviver da condenação que me imponho com dentes à mostra.
Eu sou de tudo um pouco, menos caminho. Menos resposta. Nada
que comece de novo. Apenas visualizo meias possibilidades através do alto do
meu mirante. Acompanho a luz que guia os piratas de volta para casa, mas não
vou com eles. Não tenho tesouro. Nunca vi tesouro escondido que valha à pena.
Os maiores tesouros estão à mostra.
Eu estou escondido. Com tubos umbilicais me nutrindo de
poucos prazeres. Nutrindo com vícios. Carinho. Miserável carinho vicioso. Se me parissem... Um natimorto.
Mas aquele rombo que tu abriste na fina película que me
isola do cosmo é como um sopro de vida lispectoriano que me cria novamente
enquanto vou te tocando os cabelos, amarrando um abraço apertado que, na
realidade, é o meu encontro comigo mesmo.
Você é uma promessa muda. A sugestão da mais remota
possibilidade.
É a
salvação.
Just say
the word.
o outro é um dentro
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