domingo, 12 de outubro de 2025

A última música

Hoje, eu quis ter te ligado
e, por entre muitos motivos, ter ouvido sua voz.
Da última vez, você cantava sobre
Como, numa outra vida, você permaneceria
e eu não seria como alguém
que escapa, foge, vai embora.

Nós nunca fizemos nenhunma promessa,
mas seria legal sermos nós contra o mundo.
Você é uma estrela pois, se o mundo fosse um filme
você seria a melhor parte dele.

Mas você disse muito antes, sem me dizer nada
que eu pegasse leve com você.
Como um recado do futuro, dizendo
que você era jovem e não sabia o que estava fazendo.
Você cantou e pediu calma, pois ainda estava aprendendo.

E olha que eu era apenas um cara
e você era só você, sei lá, meio especial
e aquele sorriso de antecipação
de criança
que a gente trocava
como se a próxima emoção fosse sempre ser a melhor que a gente poderia dividir.

Eu sinto sua falta como se fosse ontem
o derradeiro fim da nossa história de boa amizade.
Queria te ligar e te dar parabéns por mais um ano
mas o passado ao qual me agarro
não existe
Mas como você cantou num dos dias mais tristes da minha vida
"O universo foi feito pra ser visto pelos meus olhos".

Você me encantou por tanto tempo e eu fiquei em suspensão
diante dessa beleza que eu só quis apreciar de longe
nunca intencionei nada mais.

Mas, agora, preciso me deixar deixá-lo ir
"Quão raro é existir?".

segunda-feira, 19 de maio de 2025

Alguém [28]

Alguém que proteja seu nome por amor em um codinome beija-flor
Alguém que talvez não tivesse visto flores por onde veio se não te amasse tanto assim
Alguém que fique te esperando a semana inteira pra te ver sorrindo e cantando

Alguém que te ame de janeiro a janeiro.

segunda-feira, 12 de maio de 2025

Um nome do mar

Vasto, imenso e profundo
Sonho com o mar desde criança
Abraço cada onda como se pudessem me abandonar
o ar, a luz e a vida de cada poro meu
e somente na água salgada
pudesse me reencontrar.

Oráculo ditou desde o início
que esse menino seria do mar
carregaria no próprio nome a expansão de sentir
de temer, de sorrir, de sofrer e de amar
e cada mergulho seria mais longo que o outro
e, para cada amante, haveria um lar.

Reino inteiro feito para seu morador
o mar me lavou a alma e me devolveu a calma
mostrou o caminho mais inteiro de se perder
que na verdade é se encontrar.
Me consertei nas ondas de ressaca
Um nome feito metade de mar,
um peito cheio de ar
e a inadvertida petulante incorrigível e teimosa
vontade de continuar.

sexta-feira, 14 de março de 2025

Amanhã

Nunca durmo, mas sempre acordo
suado e em meio a memórias irreais.
Sinto sua falta apenas nos dias que amanhecem
e somente desabo nos dias que anoitecem.

Amanhã, creia no amanhã, dizem.
Arriscam 90 dias.
Apostam na libertação química,
na sobriedade advinda de certa apatia,
numa inércia incontestável
que me levará ao esquecimento.

Se pudesse, pelo menos, desaparecer...
Ser feito em pó por um estalido do cosmos...
Eu desejaria que minhas partículas viajassem
a Via Láctea toda para repousar em você.

Posso desaparecer em você amanhã?

quinta-feira, 30 de janeiro de 2025

Antes que pudesse ter sido

Todo dia a mesma rotina
acordar cedo e tomar um banho de água fria.
Despertar do sonho interrompido
por uma balança que saiu do lugar.

Depois, odiar cada minuto
e detestar cada silêncio que escapa.
Não saber aonde ir nem com quem falar.
Essa é a vida que cabe depois de uma flor
morrer sem desabrochar.

domingo, 29 de dezembro de 2024

Dor

Meu corpo acumula saudade
tanta que faz doer cada entrada.
Você chegou feito um presente
e partiu sem lembrete
mas não sem dizer que me amava.

Restou tão pouco de mim
e nada de nós.

Meu corpo dói pela espera,
por querer te encontrar na próxima sexta
quando toca nossa música tema
e ao me dobrar ao meio para resistir.

Você levou quase tudo
deixou um mísero arremedo de mim.
Ficaram as dores no peito, no dente
na cabeça, nos ombros.
Tentei negar, enfureci
Me pus a barganhar, me isolei
Mas, nunca, por fim, aceitei.

Restou só um estanque de mim
Uma roda que não gira
Um carrossel sem cor.

sexta-feira, 27 de dezembro de 2024

Aos que (se) perderam

Como alguém que tenta segurar a água com as mãos;
O trabalhador que no último minuto
perde sua condução;
Pelo embaraço de marcar um número a menos
e não faturar o milhão;
A desenganada pitada de sal que estragou o prato,
dois gramas que definiram o desfecho da refeição;
Tal como quando, na pausa da orquestra, o sopro do trompete
quebra o silêncio e arruína a canção;
Feito o pênalti, perdido na fração de segundo
em que a concentração voou com o barulho
da arquibancada que apostava o próprio coração;
Tão ruim como estar no lugar e hora errados
É estar no lugar certo e optar ceder aos pesadelos;
Tipo saber a resposta da equação e marcar a alternativa errada,
por falta de confiar;
E ao ouvir as batidas na porta, o se acovardar
e não receber o amor que se apresenta como possível
e tudo de fantasia e real que poderia ser;
Assim dedico esse drinque cheio de incerteza
aos que se perderam por um fio,
aos que perderam muito por pouco,
aos que deixaram para depois
e para uma próxima a chance de acertar
e abandonaram tudo que teria sido dessa vez.