domingo, 29 de dezembro de 2024

Dor

Meu corpo acumula saudade
tanta que faz doer cada entrada.
Você chegou feito um presente
e partiu sem lembrete
mas não sem dizer que me amava.

Restou tão pouco de mim
e nada de nós.

Meu corpo dói pela espera,
por querer te encontrar na próxima sexta
quando toca nossa música tema
e ao me dobrar ao meio para resistir.

Você levou quase tudo
deixou um mísero arremedo de mim.
Ficaram as dores no peito, no dente
na cabeça, nos ombros.
Tentei negar, enfureci
Me pus a barganhar, me isolei
Mas, nunca, por fim, aceitei.

Restou só um estanque de mim
Uma roda que não gira
Um carrossel sem cor.

sexta-feira, 27 de dezembro de 2024

Aos que (se) perderam

Como alguém que tenta segurar a água com as mãos;
O trabalhador que no último minuto
perde sua condução;
Pelo embaraço de marcar um número a menos
e não faturar o milhão;
A desenganada pitada de sal que estragou o prato,
dois gramas que definiram o desfecho da refeição;
Tal como quando, na pausa da orquestra, o sopro do trompete
quebra o silêncio e arruína a canção;
Feito o pênalti, perdido na fração de segundo
em que a concentração voou com o barulho
da arquibancada que apostava o próprio coração;
Tão ruim como estar no lugar e hora errados
É estar no lugar certo e optar ceder aos pesadelos;
Tipo saber a resposta da equação e marcar a alternativa errada,
por falta de confiar;
E ao ouvir as batidas na porta, o se acovardar
e não receber o amor que se apresenta como possível
e tudo de fantasia e real que poderia ser;
Assim dedico esse drinque cheio de incerteza
aos que se perderam por um fio,
aos que perderam muito por pouco,
aos que deixaram para depois
e para uma próxima a chance de acertar
e abandonaram tudo que teria sido dessa vez.

sexta-feira, 6 de dezembro de 2024

Lua em Peixes

Todo devoto ao seu encanto
como o pirilampo cercando a luz
ser entregue ao lamento
de quem ama tanto
que se derrama em cada canto.

Deseja tudo e entrega o mundo
faz do seu objeto a sua vida
para, não pisca, está se arruinando
fazendo-se em pó
e perdendo-se em nós.

Dedicação do mar à lua
espaço pequeno para caber por inteiro
aproveite agora, parta do zero
pois, assim como inicia fácil
se desfaz por completo
noutro breve piscar de olhos
ou num novo poço de sonhos.

terça-feira, 12 de novembro de 2024

Colecionador

Que incômodo essas tripas!
Quem me dera, por fim, arrancá-las
uma por uma até que não sobre nada.
De quebra, chega dessa pele
desse excesso de toques
de maneira mais nobre
quero tirar essa derme primeira roupa.
Uma vez, assim, pois rasgo de mim
também meu pulmão e meu estômago
que comem e respiram a mesma coisa
que não conseguem nem mesmo
segurar suas forças.
Jogo tudo no lixo, não me servem
nem mesmo esses dentes caríssimos
essas unhas bem-feitas
olhos que só veem o que querem
e uma boca que não fala o que deve.
Já meu cérebro, pode ser que melhor seja o chão
a rua, o quintal, a terra ou o vão
jogue-o aos bichos se por ventura puder.
Não quero ter que pensar outra vez.
Mas meu coração, querido,
Esse, não.
Esse você guarde.
Pode ser que você volte a precisar.

quarta-feira, 6 de novembro de 2024

Pedestal

Essa minha pele veste tão bem
os afetos vaidosos de meu amor
Alto e elevado, leve, doce e sublimado
Quem é o rei e que roupa ele veste?
Sentado em seu trono, erguendo seu cetro
Bobo da corte sem derme e sem rosto
faz graça e lambe seu chão
e por onde passa é lá que ele se faz monarca
Dono de tudo e de todos que se adiantaram.
Essa minha pele gasta não veste mais meu rei
meu sol, meu sul, minha estrela azul
Descarta o robe que carrega minha carne
E o esquece sob o sol e que tudo se lasque!
O trabalho já está feito.
Meu rei jamais desceria de seu pedestal.

Após o Carrossel

E agora?
Luzes acesas, sem mais aplauso
O que faço eu agora jogado ao acaso?
Medo e silêncio,
Gelo e distância,
Me antecipei e na covardia e na ânsia
desfiz todo meu rosto
todo meu corpo
todo meu ser.

E agora que não posso mais querer?
Nenhuma música virando poesia
Nenhuma nota coroando a estripulia
Fogo e saudade,
Peito aberto sem piedade.

E agora que o caminho de se perder é
o mesmo que me trouxe aqui
sem feito sem afeto sem eu mesmo sem teto.
e agora, faço o que de mim?

terça-feira, 11 de junho de 2024

Carinho

Me abrace todo dia
Deixe escapar um beijo no meu rosto.
Às vezes, pouse sua mão sobre a minha
e a deixe lá.
Quero teu carinho.
Coloque sua mão sobre minha perna
deite sua cabeça no meu ombro.
Não precisa dizer nada.
Apenas sinta que eu e você
Trocamos carinho
Aproxime teu corpo do meu
E deixe que o amor fale mais alto.