Eu entro no quarto e um frio terrível percorre minha espinha, fazendo os pelos do meu braço se arrepiarem. Não tem ninguém. Está tudo vazio. Não tem cama ou guarda-roupa, nenhuma cadeira, nem mesmo os livros que ganhei de presente, histórias malucas que tanto pululam na minha imaginação e me fazem querer escrever mais e mais de forma doentia. Nada.
Eu estou com medo. Um medo único, nunca sentido.
E a voz que ecoa na minha cabeça me pergunta se há alguém e eu digo que não. Não tem ninguém.
Exceto por essa presença sombria como uma fumaça pairando sobre a minha cabeça.
Talvez atrás da porta se esconda um menino chorando baixinho maldizendo o nosso lar. Ou nem isso.
A fumaça não está na minha imaginação. É presença real. Ela indica o início das dificuldades e encerra o ciclo. Mas também aparece no início de outro. Há uma nova vida imaculadamente preparada para o meu delírio. E eu sinto que não posso sentar à mesa e desfrutá-la. Não ainda. Não até que eu entenda qual é essa presença macabra que ecoa como o silêncio entre essas quatro paredes cheias de histórias.
Há uma marca no chão. Isso eu posso ver. É uma mancha. Uma mancha vermelha e pegajosa.
Meu nariz está sangrando e eu partindo.
- Tem alguém aí?
Meu pai uma vez me contou uma história de um bandido que entrou em nossa casa e ficou escondido em algum lugar até que todos estivessem dormindo e ele, finalmente, pudesse nos roubar. E ele levou tanta coisa importante. Material e sentimental. E é como se ele tivesse voltado para levar as minhas coisas importantes. Ninguém acordou naquela noite, décadas atrás. Mas agora, eu estou em pé aqui, desafiando-o a sair da penumbra e me encarar de homem pra homem. Precisaria de uma coragem que não tenho, mas preciso defender minha casa.
- Tem alguém aí?
Não há ninguém no meu pensamento. É como o vazio da minha varanda. Tudo é frio quando se pensa em desistir, em voltar atrás. Quando se teme a presença maligna e distante do arrependimento. E eu acho que é isso que me incomoda tanto. Esse é o meu bandido soturno que quer levar o que mais tenho de importante.
Não tem ninguém no meu coração. Eu disse uma vez e repito. A minha necessidade de me amar vem de um lugar distante, como as histórias dos livros. Vem do passado. Vem da minha própria história errante. Nem mesmo a luz da cidade entra pela janela, pois ela me respeita acima de tudo e sabe que nada deve permanecer no meu quarto até que amanheça e eu esteja pronto para caminhar novamente. E eu choro porque a chuva de agora vai lavar as minhas rosas e a tristeza chegará ao fim. Choro na melodia de Ana, enquanto temo tudo que possa servir de luz.
Estou na contradição. Medo do escuro. Medo da claridade.
Mas há alguém aqui.
Eu sinto isso.
Então me viro para chamar alguém, para enfrentar o desconhecido com algum amigo. São escolhas que fazemos. Se você parar para pensar no "porquê" das coisas, você pode assumir muito bem as rédeas do seu destino. E quase saindo do quarto eu reparo. Não é alguém. É apenas um espelho.
Um espelho grande pendurado na porta. Eu o usava para me arrumar para as festas. Ele sobreviveu. Está aqui, brincando com a minha mente. Com a superfície gelada. Eu o toco e posso sentir a superfície gelada assim como minhas mãos e pés. Mesmo no escuro, eu sei que ele me reflete.
Então entendo.
Tem alguém aqui sim. No meu pensamento, no meu coração, no meu quarto, dormindo comigo. E não é bandido. É apenas um rapaz louco, morrendo de vontade de voltar a ficar comigo. Só nós dois.
A cama aparece repentinamente, como se tivesse saído da parede. Não preciso de amigos para enfrentarem o desconhecido comigo. O desconhecido agora é tão conhecido que posso me deitar, me cobrir feliz, cheio de cobertores para espantar o frio e dormir em paz.
domingo, 18 de agosto de 2013
terça-feira, 13 de agosto de 2013
CAOS [Final]
Eu evaporei morno e suave sobre o
asfalto e debaixo do sol impiedoso de Janeiro. Não disse uma palavra sequer.
Nem mesmo reclamei. Como água, minha
mãe dizia. Eu subi aos céus como água, com uma música mórbida de passagem, de
ida, de partida. De reticências. Quem disse que alguma coisa fica depois da
sublimação? Somos todos nulos depois desse avanço. Este sou eu sem esperanças.
...
...
Ironicamente subindo, como o gás
que retorna do estômago, passa pela garganta e é sonoro quando sai pela boca. Estou
aberto e de costelas separadas para que minhas entranhas vejam bem o mundo do
qual me escondi. Um artista qualquer me pintaria como uma releitura de Jesus Cristo
na Cruz. O mestre dos mestres, minha
mãe diria. Eu sou o mestre em prender a respiração por anos e me esconder atrás
da desculpa mais fajuta que existe.
Não é nada.
Estou com fome.
Estou com sono.
Estou cansado.
Cansado de quê?
...
Engenhosamente, o universo me põe
diante de escolhas definitivas. Como se eu pudesse, SIM, SER O DONO DO MEU
DESTINO. O roteirista mal pago do meu próprio seriado. E eu estou sempre com
fome e cansado e com sono e quero comer dormir e comer. E sair pela janela.
Santa Tangente.
Quanta gente...
Morram comigo. Mesmo que não
sejamos amigos, tampouco conhecidos. Talvez apenas amantes. Distantes. Morram
comigo, tristemente. Por que temer o lamento? Por que não se dar ao luxo? E
calem-se. O deserto está pegando fogo. O mar estremece debaixo de nossos pés. Fim do mundo, acreditava minha mãe. É o
fim. Fim de tudo que foi, de tudo que é e de tudo que será. Como anda a
solidão, dona? Já firmou seu pé no chão hoje? Depois de tantas horas... Eu me
esqueço de como ser humano. Como é pensar raciocinar lógica louca.
Outrora, eu fui a sinfonia
marcante da adolescência de Carrie. Que morreu suja de sangue de porco,
humilhada e perdida e consciente e respirando vendo somando temendo morrendo. (...) Ela morreu?
Eu vou explodir em 3, 2, 1.
Estou aberto ao mundo do outro
lado. Depois dessa linha que há entre você e eu.
É só uma linha. Você deveria ter
ido me buscar no meio da rua, seu imbecil. Levantar meu corpo que evaporava sob
o sol de Janeiro. Você deveria ter me dito que nada disso é real. Que o que é
verdadeiro é o que vem depois disso, dessa tristeza toda. E eu não teria
morrido miserável e descrente.
Onde estou não chove, não faz
sol. Tudo apenas gira, sem sentido. Eu engulo a saliva com gosto de reticências
e talvez esteja acordando depois de uma noite indigesta. Olho pela janela e
você não está lá.
Ninguém está em lugar nenhum. Um
pesadelo dentro do outro pesadelo. E a vida real acontecendo nesse meio. O meio
do caminho. Depois do dia em que partirmos quero que minha sombra fique
assombrando algum casarão que chamarão assombrado.
Vou de encontro ao seu colo porque quero este conforto hoje à noite e porque
você encostou o seu rosto na poltrona e sorriu pra mim e me roubou. Eu não
serei mais violento. Chega de loucura. Não quero mesmo nenhuma resposta. Quero
ficar na dúvida será que você é mesmo assim ou eu que te projeto com o filtro
da minha solidão? Abandona-me, TRISTEZA! (Eu te disse isso antes e você me
ouviu e depois voltou buscando meu apoio porque você está tão só quanto eu só
que você suga a energia você me faz pior do que eu sou sozinho e não preciso de
você aqui). E sou um boneco sem sexo, ou um anjo, caso vocês sejam católicos. E
tenho o direito de escolha sobre a morte. Minha diversão transvestida de luto.
Fora não há nada. Quem não está nem aí vive melhor.
Sou seu gato negro.
Depois de me vestir e fingir que
está tudo bem, o que mais você quer?
Vou interromper as palavras para
poder encerrar esta loucura. Minha mão morta quase me toca na boca. Ainda bem
que nada pior aconteceu e tudo só foi um pesadelo.
Amanhecerá o dia e eu terei
coragem. Em breve.
A lagarta relutante dentro do
casulo que não morre de lutar, mas morrerá se ficar parada. Mesmo que isso
custe toda a eternidade. A gente morre parado. Mas é se debatendo que nascemos
para uma nova vida. Mesmo que esteja quente sob o sol e você queira perder as
esperanças.
Adeus, meu caos particular que eu
amo tanto. Vá fazer morada em outro. (...) Vá!
Adeus.
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